Companhias aéreas se movimentam em direção ao Norte

Companhias aéreas se movimentam em direção ao Norte

De olho em um mercado ainda incipiente no Brasil, empresas aéreas ampliam negócios na região Norte. A decisão veio na esteira de investimentos na infraestrutura aeroportuária. Do lado do governo federal, a estimativa é desembolsar R$ 323,7 milhões até 2022, para além de parcerias com o setor privado e leilões que prometem facilitar a operação das companhias aéreas.

A Gol anunciou recentemente a compra da MAP Linhas Aéreas, com sede em Manaus. Já a Voepass, que vendeu a MAP, usará o recurso da transação para investir na aviação regional e apontou o Norte do país como foco.

A Azul informou que terá novos destinos no Amazonas, a serem operados após a conclusão de obras nos terminais de Barcelos, Apuí, Eirunepé, Itacoatiara, Humaitá, Borba e Novo Aripuanã.

As três companhias e a Latam lideram o mercado do Norte do país, que também conta com aéreas de menor porte, sobretudo de táxi-aéreo e carga.

A região demonstra potencial. Diante de poucas alternativas ao transporte aéreo, a demanda é mais firme.

Entre janeiro e abril deste ano, o volume de passageiros transportados no Norte (de e para) foi de 409,64 mil, queda de 8% na comparação anual – no mercado doméstico do país todo a queda foi de 27,1%, para 16,28 milhões.

O secretário da Secretária Nacional de Aviação Civil (SAC), Ronei Glanzmann, diz que o governo tem uma agenda de investimentos na região em 24 aeroportos. Para este ano, são previstos aportes na casa de R$ 125,9 milhões. Em 2019 e 2020, os terminas já receberam R$ 345 milhões.

“A região Norte é carente em infraestrutura há muitos anos. O transporte aéreo é a alternativa correta do ponto de vista ambiental”, disse, em referência aos empecilhos de se abrir estradas na região, com muitas florestas.

Para além dos investimentos públicos, o secretário apontou o projeto-piloto de uma Parceria Público-Privada (PPP) em oito terminais no Amazonas: Parintins, Carauari, Coari, Eirunepé, São Gabriel da Cachoeira, Barcelos, Lábrea e Maués, com investimentos previstos de R$ 380 milhões – bancados com recursos do Fundo nacional de Aviação Civil (Fnac). “É um projeto-piloto para aplicar depois em outros Estados”, disse.

A ideia é abrir espaço a operadores privados e, como os terminais não se sustentam economicamente, remunerá-los pelo serviço no lugar de o governo receber outorgas. A estimativa é de edital publicado em maio e leilão em setembro do ano que vem.

O modelo é inédito no governo federal, mas tem sido usado no aeroporto da Zona da Mata, em que o governo estadual paga uma contraprestação à concessionária – formada pelas empresas Socicam (administradora do Terminal Rodoviário do Tietê) e CBCE (Companhia Brasileira de Comércio Exterior).

O governo federal ainda leiloou, em abril deste ano, 22 aeroportos da sexta rodada que contou com sete terminais no Bloco Norte, arrematados pela Vinci Airports, que investirá R$ 1,6 bilhão em 30 anos. Dentro da sétima rodada, prevista para 2022, há ainda o bloco Norte II, que reúne terminais como Belém/PA, Santarém/PA e Macapá/AP.

As sinalizações de investimento motivaram o setor aéreo. A Gol fechou a compra da MAP, negócio que ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Anac. A aquisição abre oportunidade para a Gol crescer no terminal de Congonhas, ao levar 26 slots na temporada de verão que hoje estão sob poder da MAP, mas também é janela para se posicionar melhor na região Norte.

A MAP opera com aviões ATR, que comporta até cerca 70 pessoas. Pelo plano, a Gol irá abraçar as rotas da MAP que suportam o Boeing 737. Os terminais menores vão continuar atendidos pela Voepass via acordo de compra de capacidade. Hoje, o grupo Voepass tem cerca de cinco aviões dentro da parceria com a Gol. A compra da MAP não envolveu a compra de seus aviões.

Executivos da Gol informsaram que continuam monitorando oportunidades para encontrar um parceiro no segmento de aviação que opere modelos menores do que o ATR. Em fevereiro, a aérea havia anunciado acordo de interline (um passo antes do codeshare, que é o compartilhamento de assentos) com a Asta Linhas Aéreas na região Centro-Oeste. Mas a Asta, que voa com o avião Caravan, de nove lugares, acabou desistindo do projeto.

A Voepass é outra que tem planos de investir no mercado regional. Com o aval do negócio com a Gol, a empresa levará R$ 28 milhões em dinheiro e ações da Gol, além de se livrar de R$ 100 milhões em dívidas, a serem assumiras pela Gol.

A Azul não pretende ficar para trás. A empresa, que no ano passado deu um forte passo rumo à sua regionalização ao comprar a TwoFlex (que hoje é a Azul Conecta), pretende adicionar à sua malha oito novos destinos no Amazonas neste ano.

Quase todos esses destinos, entretanto, ainda dependem da conclusão de investimentos em infraestruutra portuária nos terminais. A exceção é São Gabriel da Cachoeira (AM), que já receberá voos a partir de 3 de agosto.

A Latam também monitora oportunidades na região. A companhia opera diversas rotas de Brasília e São Paulo para o Norte. “A partir de 1º de julho, a companhia contará com mais duas novas rotas para a região. Serão voos a partir de Fortaleza para Belém e Manaus”, informou a Latam.

A empresa disse ainda que está atenta ao processo de concessões aeroportuárias no Brasil, que permite acelerar investimentos em infraestrutura, mitigar gargalos e modernizar a rede aeroportuária nacional.

O avanço do setor aéreo na região é comemorado por especialistas. O ex-diretor da Anac, Ricardo Fenelon, destacou o potencial turístico do Norte, que tende a crescer com uma malha aérea melhor. Segundo o especialista, a pandemia colaborou para jogar luz sobre a falta de infraestrutura aérea em regiões mais isoladas, mas o tema precisa ser debatido também fora da crise. Por Valor Econômico / Foto: Divulgação

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