Wilson Sons inicia operação com energia 100% renovável na Base Rio
Como a cabotagem e as ferrovias podem reduzir o custo de vida

Roberto Pansonato*
Quanto maior for o custo de vida em um país, mais difícil e mais caro será executar qualquer atividade econômica. O custo Brasil reflete essas adversidades, dificultando o ambiente de negócios no país, provocando baixa competitividade e mais gastos para empresas e investidores. Dentro do custo Brasil, podemos apontar alguns aspectos que dificultam o ambiente de negócios, como alta carga tributária, excesso de burocracia, complexidade regulatória e, é claro, a infraestrutura logística inadequada.
A nossa matriz de transporte de cargas continua bem desbalanceada, ou seja, existe baixa utilização da malha ferroviária para o transporte de cargas de longa distância, sobrecarregando o modal rodoviário, que é mais caro para o transporte de grandes volumes. Segundo a Ilos, em 2023 a matriz de transportes no Brasil apresentava 62% de utilização do modal rodoviário, 19% do ferroviário, 15% do aquaviário (o que inclui a cabotagem) e 4% do aéreo. Para se ter uma ideia, estudos realizados pelo Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) em 2007 previam uma participação de 33% do modal ferroviário e 29% do modal aquaviário na matriz de transporte de cargas para 2025.
A má notícia é que já estamos em 2025 e essas previsões ainda estão muito longe de se tornarem realidade a curto prazo. Portanto, muitos estudos já foram realizados, principalmente na revitalização da malha ferroviária, mas infelizmente a grande maioria não se tornou projetos. Dentre os estudos, um deles, denominado “Ferrovias de Carga Brasileiras: Uma Análise Setorial” (2018), ressalta o papel relevante do sistema ferroviário brasileiro na redução de custos logísticos para diversas cadeias de suprimentos e na elevação da competitividade das empresas. Desenvolvido pelo BNDES, o estudo destaca que o sistema ferroviário propicia o acesso a bens de forma mais econômica e sustentável.
Corroborando com as afirmações acima, Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, afirma que participação das ferrovias em nossa matriz de transporte deveria ser, no mínimo, de 38%, ou seja, um pouco superior aos 33% previstos pelo estudo da PNLT. Se buscarmos outras fontes de estudos sobre investimentos nas ferrovias, sempre haverá a menção da redução de custos como um dos objetivos a serem alcançados com a implantação de projetos na área.
Com relação a cabotagem, que é o transporte marítimo de cargas entre portos de um mesmo país, tem se observado esforços por parte do governo, tais como os Estudos do Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem (BR do Mar), sancionado em 2022 —portanto, ainda recente, que tem como objetivo estimular a navegação entre portos nacionais, com a expectativa de reduzir os custos do frete. Nesse sentido, a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC) prevê algo em torno de 30% de redução no custo de transporte, comparado com o modal rodoviário para longas distâncias.
E o ganho com a cabotagem não se restringe aos custos. Conforme estudos da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), os navios costumam operar no Brasil com 2,5 mil a 4,8 mil contêineres, o que pode reduzir o número de caminhões nas rodovias em viagens de longa distância e, consequentemente, a geração de CO2. Segundo a Ilos, nos últimos 15 anos, a cabotagem de contêiner cresce a uma taxa anual de dois dígitos, o que é uma ótima notícia.
Portanto, tanto as ferrovias quanto a cabotagem têm possibilidades de promover redução nos custos logísticos e, consequentemente, no custo Brasil. Para isso acontecer, são necessários investimentos. Segundo Paulo Resende, países emergentes e desenvolvidos chegam a investir até 8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em logística de transportes, e o Brasil jamais passou dos 2%. O governo, se não consegue investir, pode sim ser um indutor do desenvolvimento, através de parcerias com a iniciativa privada. Já passou da hora!
* Professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Logística e Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos.
Foto: Divulgação