Anúncio de tarifa dos EUA gera alerta no mercado de combustíveis

Vitor Sabag*
O anúncio feito ontem pelo presidente Donald Trump sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil — incluindo petróleo e derivados — trouxe incertezas ao mercado de combustíveis. A medida está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto de 2025, mas ainda pode sofrer alterações até lá. Vale lembrar que, em situações anteriores, como no episódio das tensões diplomáticas entre EUA e Colômbia, medidas semelhantes acabaram sendo revertidas por meio da diplomacia.
No campo das exportações, os Estados Unidos representam atualmente entre 10% e 12% das exportações brasileiras de petróleo, segundo dados de comércio exterior. Caso a tarifa seja efetivada, essas operações se tornariam economicamente inviáveis, forçando o Brasil a redirecionar parte de sua produção para mercados alternativos, como a Ásia e a União Europeia.
No caso das importações, o impacto potencial pode ser ainda mais significativo. Em abril, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o governo brasileiro a adotar contramedidas contra ações unilaterais que prejudiquem a competitividade do país. Se o presidente Lula decidir aplicar essa prerrogativa, o Brasil pode impor tarifas sobre o diesel importado dos EUA — que atualmente representa cerca de 23% de todo o diesel importado para suprir a demanda interna.
Esse cenário pode abrir ainda mais espaço para o diesel de origem russa, que já detém cerca de 60% das importações brasileiras, segundo dados da ANP.
Além das implicações comerciais, o anúncio teve reflexos imediatos no câmbio. O dólar subiu cerca de R$ 0,10 desde ontem, movimento atribuído em parte ao aumento da percepção de risco, embora outros fatores também contribuam para a volatilidade da moeda. Essa valorização do dólar tende a pressionar os preços do combustível importado que chega aos portos brasileiros.
Apesar da gravidade do anúncio, o momento ainda é de observação. Mudanças podem ocorrer a qualquer momento, dependendo das decisões do governo norte-americano e, principalmente, das ações do governo brasileiro nas próximas semanas.
*Especialista em Combustível do Gasola
Foto: Divulgação