Cuidados no transporte de cosméticos exigem atenção redobrada
O Brasil, a aversão ao modal ferroviário e o colapso logístico

* Roberto Pansonato
Será que existe alguma aversão por parte dos governos desde a década de 1920 à utilização do modal ferroviário para transporte de cargas? Embora esse assunto tenha sido muito discutido nos últimos anos, pouco se tem feito a respeito. Para se ter uma ideia, na década de 1920, a malha ferroviária cobria quase 30 mil km de extensão. Passado mais de um século, pasmem, ainda estamos praticamente com os mesmos 30 mil km, segundo dados do DNIT. O objetivo desse texto não é chorar pelo leite derramado (haja leite para esses 100 anos), mas sim apontar que a aposta no modal rodoviário pode resultar em um colapso logístico.
Segundo dados da ILOS de 2023, o custo logístico no Brasil é de aproximadamente 18,4% do PIB, enquanto os Estados Unidos, país com território comparável ao Brasil, é de 8,7%. Vale ressaltar que os Estados Unidos, país conhecido por ser o berço da indústria automobilística, possui uma malha ferroviária com mais de 250 mil quilômetros de ferrovias, segundo dados da Alesp.
Ao se transitar pelas rodovias no Brasil, é possível encontrar uma quantidade enorme de caminhões em trânsito, gerando tráfego excessivo e muita poluição na atmosfera. Essa condição não é vista em outros países, tal qual os Estados Unidos, por exemplo. Não que o modal rodoviário seja ruim, pelo contrário, em termos de flexibilidade e pelo fato de ser um modal que permite entregas porta a porta, ele se torna muito eficiente, porém, para distâncias mais curtas, e não da forma como se faz no Brasil, em que um caminhão é carregado em um estado da região sul e descarregado na região nordeste, por exemplo. Isso não faz sentido! Existe uma métrica que aponta que para mais de 500 km de trajeto, o modal rodoviário não seria tão competitivo.
Mas onde está o colapso nessa história? Vamos analisar dois pontos no Brasil, entre muitos outros, em que a movimentação de veículos está se tornando algo caótico. Na região da cidade de Itajaí, no estado de Santa Catarina, a BR-101 já não acomoda a enorme quantidade de caminhões que transitam por lá. Houve investimento em vários portos ao longo do litoral catarinense, o que é louvável, no entanto, a infraestrutura logística de transporte para atender aos portos não acompanhou essa evolução. Dessa forma, o trecho da BR-101 e outros próximos podem entrar em colapso logístico.
E não para por aí. Outro trajeto em possível colapso fica entre a maior capital do país, a cidade de São Paulo, e a cidade de Curitiba. A chegada dos caminhões à cidade de São Paulo, na maioria das vezes, é um caos, principalmente antes do Rodoanel Mário Covas. A BR 116, conhecida como Rodovia Régis Bittencourt, no trecho entre Curitiba e São Paulo, tem suas pistas duplicadas e piso em boas condições, porém, é uma estrada antiga, inaugurada em 1961 no governo de Juscelino Kubitschek.
A princípio, com pista única, atendeu a demanda da época, porém com o aumento do tráfego de veículos de passeio e caminhões, não demorou muito para os problemas acontecerem e o trecho passar a ser conhecido como a “Rodovia da Morte” nos anos 1980 e
1990, em função do grande número de acidentes fatais. A duplicação foi finalizada por volta de 2017, porém continua uma estrada ultrapassada e com muitas curvas, o que ainda causa muitos acidentes, principalmente com caminhões.
Esses são apenas dois casos destacados entre muitos no Brasil que merecem atenção, em que a ferrovia poderia se encaixar muito bem como um suporte importantíssimo na multimodalidade, desafogando o modal rodoviário e propiciando maior eficiência aos sistemas de transporte.
* Professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Logística e Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos.
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